segunda-feira, 19 de abril de 2010

Duas correntes ideológicas

Por: Natália Zamboni

Durante o Governo Constitucionalista de Vargas (1934 – 1937), duas vertentes políticas começaram a influenciar a sociedade. De um lado havia a Ação Integralista Brasileira (AIB), de extrema direita. Do outro, a Aliança Nacional Libertadora (ANL), com ideais esquerdistas. Diferentemente dos partidos da República Velha, que geralmente representavam seus estados, dessa vez os partidos possuíam caráter nacional – o que, aliás, é o que vigora até hoje na política brasileira. Mas, o que eram, exatamente, esses dois partidos?

Ação Integralista Brasileira (AIB)

A AIB foi fundada em 07 de outubro de 1932, pelo escritor e jornalista, Plínio Salgado, através do lançamento do Manifesto de Outubro de 1932, que sintetizava os fundamentos do Integralismo.

Os ideais integralistas foram influenciados pelo fascismo, regime totalitário desenvolvido e implantado por Benito Mussolini na Itália, no período de 1919 a 1945. Um sistema fascista é qualquer um que, assim como o governo de Mussolini ,exalta os homens, usa técnicas eficazes de propaganda e censura, sustenta-se no nacionalismo e, na maioria dos casos, pratica xenofobia. As principais características do fascismo são: o totalitarismo, a liderança carismática, o corporativismo, o nacionalismo, o militarismo, o expansionismo e o companheirismo.

O movimento Integralista, também conhecido como “camisas-verdes” ou “galinhas-verdes”, referência feita à cor dos uniformes utilizados, se restringia basicamente à classe-média. O partido apareceu como uma saída alternativa para a massa desorganizada e que não aderiu aos ideais comunistas. Além disso, oferecia uma oportunidade às mulheres e aos negros de participarem de forma mais ativa na política brasileira. A AIB estabeleceu, também, um rigoroso código de ética e moral e uma política assistencialista, com distribuição de cestas-básicas e construção de escolas e ambulatórios. O partido utilizava como cumprimento a expressão "Anauê", que em tupi significa "você é meu irmão" e dentro do contexto dos integralistas era um sinal de afeto e reconhecimento de igualdade.

A Ação Integralista encontrou seu fim em 1937, quando Getúlio Vargas implantou o Estado Novo. Esse fim surpreendeu os integralistas, já que o presidente sempre apoiou o movimento. Apesar disso, mesmo com a ajuda de Plínio Salgado e seu partido para realizar seu golpe, Vargas proibiu a existência de qualquer grupo político a partir de novembro de 1937.

Aliança Libertadora Nacional (ANL)

No início da década de 30, começaram a surgir em vários países, frentes populares que sentiam a necessidade de uma atuação para deter o crescimento nazi-fascista no mundo. Sendo assim, com o crescimento da Ação Integralista Brasileira, pequenos grupos antifascistas surgiram, reunindo comunistas, socialistas e ex-tenentes.

Em meados de 1934, reuniões começaram a ser promovidas no Rio de Janeiro a fim de criar uma organização política capaz de dar suporte aos ideais antifascistas. Dessas reuniões foi que, em 1935, surgiu a Aliança Libertadora Nacional, que era liderada pelo Partido Comunista.

Foi criado então um manifesto que tinha como pontos principais: a suspensão do pagamento da dívida externa do país, a nacionalização das empresas estrangeiras, a reforma agrária, a proteção aos pequenos e médios proprietários, a garantia de amplas liberdades democráticas e a constituição de um governo popular. A ANL foi oficialmente lançada em uma solenidade realizada na capital federal. Na ocasião, o manifesto foi lido e Luís Carlos Prestes, que se encontrava na União Soviética, foi aclamado presidente de honra da organização.

Nesse momento, o cenário político no Brasil estava turbulento. Conflitos nas ruas entre integralistas e comunistas eram freqüentes. No dia 05 de julho, a ANL promoveu uma série de manifestações públicas e, nessa ocasião, contra a vontade de vários líderes aliancistas, foi lido um manifesto escrito por Prestes, que propunha a derrubada do governo. Vargas então, se aproveitando da enorme repercussão desse acontecimento, ordenou que a organização fosse fechada, mas o propósito, no entanto, era proteger a si próprio.

Agindo na ilegalidade, a ANL não podia promover manifestações públicas, perdendo, assim, o contato com a massa popular. Com isso, a organização ganhou força interior, com os membros do Partido Comunista e os tenentes, que estavam dispostos a derrubar o governo. No final de 1935, um levante militar que agia em nome da ANL tomou Natal por 4 dias e teve grande apoio popular. Também aconteceram rebeliões em Recife e no Rio de Janeiro. No entanto, o governo de Vargas não enfrentou dificuldades para dominar a situação. Em seguida uma intensa repressão contra qualquer grupo de oposição foi implantada, dando um fim definitivo à ANL.

Golpe de mestre

Getúlio Vargas foi astuto e felino ao se valer da ajuda da AIB e, ao mesmo tempo, acabar com a organização e com todos os grupos opositores, principalmente com a ANL, dessa forma, concentrando o poder todo em suas mãos. Assim, com o apoio militar e popular, foram criadas condições perfeitas para o golpe de estado de Vargas. Inaugurou-se, então, um dos períodos mais autoritários e repressores do país, que ficou conhecido como Estado Novo. Mas essa é outra história...


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